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“Parerga, Paralipomena, porco-espinho. Alegorias à brasileira.”

Por Mohammad Jamal.

Aprendi muito cedo ajudado pela minha espontaneidade natural, que devemos amar as crianças como anjos na terra. Amo e respeito demais a todas as crianças, indiferente às raças, etnias, cor da pele… Mas às crianças a que me refiro neste artigo, trata-se apenas de figura linguagem e, porque tenho passado noites sem dormir preocupado com elas nesse momento difícil. Explico: minha predileção pelos políticos me faz considera-los criancinhas; carentes de amor, cuidados, carinhos, votos, eleição. Por isso essas preocupações me causam sobressaltos noturnos terríveis. Não me alimento direito, não durmo; pressão alta etc.

Figura de linguagem, porque crianças também “cagam” e urinam na cama, têm calundus, “pitis”, dão chiliques e shows de deseducação em locais públicos. E ao crescerem, às vezes delínquem, roubam, matam, assaltam, estupram, corrompem, desviam-se em condutas criminosas. Tudo isso com foro privilegiado, o ECA, que as protegem e impedem que possam se presas, mas apenas contidas e apreendidas para um sistema de recondução pós-educacional, a maioria das vezes domiciliar. Ah… Nossos políticos, nossas criancinhas dengosas. Isso me faz relembrar certo livro, ainda não publicado, onde o autor relata um episódio ocorrido na sala do Breakfast do Senado Romano, quando dois senadores se encontram e se passa o seguinte diálogo entre ambos:

Cumulus: _ Justus. Você sabe a quanto está a cotação de um defunto “coviadado”, (morto por Covid)?

Justos: _ Sei não. Até semana passada estava a dez mil dinares por unidade, mas depois das ações da Guarda Pretoriana, com centuriões armados e as porras, acho que não deve passar de uma pataca por unidade.

Cumulus: _ Justus. Notei que você entrou aqui no Breakfast meio coxo, com os quartos duros e, manco de uma perna! Tá com panarício no “briôco” ou é furúnculo no rabo?

Justus: _ Nada disso, estou com hemorroidas monetarizdas, muito cheias, podres de ricas, coisa grave. Por isso estou andando assim de bandinha. Mas já tem até uma viatura da MPF (Maternidade Parto Feliz) e vários médicos especialistas em Parto Feliz me esperando lá em casa. Tudo normal!

“Tamarrado”. A prevenção do povo em favor dos poderosos é tão cega, e a obstinação em lhes admirar os gestos, os retratos, o som de voz e as maneiras tão geral, que, se eles pensassem em ser bons; essa admiração chegaria à idolatria. (La Bruyère) Vou escrever hoje sobre as bizarrices da contemporaneidade e achei conveniente começar expondo um pensamento do célebre, Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido pelo pseudônimo Mark Twain, escritor e humorista norte americano. É dele esta pérola: “A diferença entre a verdade e a ficção é que a ficção faz mais sentido.”. E como faz. Lembram-se daquela “Carta”, ou A Carta, que titulava uma das músicas do segundo mais famoso cantor brega da nossa história? O primeiro mais famoso foi o Nelson Gonçalves! O segundo, Waldick Soriano, um ícone da nossa melhor música brega/puteiro – o brega situa-se nos bairros das cidades e o puteiro, geralmente fica nas saídas para as rodovias ou nas vizinhanças das Estações Rodoviárias -, coisa de antigamente. É sobre A Carta, do Waldick, que guarda algumas coincidências e bizarras conotações com nossa contemporaneidade política advinda dos quintos de Brasília, nossa musa capital, corrompida. Literalmente: “Amigo, por favor, leve esta carta e, entregue àquela ingrata… E diga como estou!”.

 الموت كامنPois é, (trad. a morte está à espreita). Todo mundo, apavorado com a morte mirando diretamente nossos olhos enquanto um casamento entre a raposa e o chacal, não obstante “diferenças” quase inconciliáveis, vai transcorrendo em pacífica comensalidade para contentamento de ambos, política e dinheiro público. Graças a Allah, Deu bode! A Carta com sincera catarse sobre mágoas e ressentimentos passados, veio a público na pandemia regada a milhões de dólares roubados da saúde, verbas bilionárias para financiamento de campanhas etc. e tudo isso, à proximidade das eleições. Que novela dramática! Agente sabe que no final tudo se acerta e acaba bem, mas a fidelidade na dramatização e o talento, reconheçamos, deixam-nos com os nervos à flor da pele pensando que tudo é verdade! “A diferença entre a verdade e a ficção, é que a ficção faz mais sentido.” Ou não? E nós, tontos, onde estávamos que não vimos nada dos assaltos? Nenhum movimento, nenhum tilintar de moeda, nenhuma porta sendo arrombada; nem bombas explodindo caixas eletrônicos! Só o movimento silencioso das máquinas para contagem das cédulas dos cofres públicos bilionários sendo saqueados.

Ah! Nós temos álibi pra isso! Estávamos na caverna! De lá não se vê nem se ouve nadinha. Refiro-me à Caverna da Platão, aquela do Mito ou da Alegoria da Caverna, que sustenta nossa tese de reconhecida ignorância e boa fé diante do concretismo da nossa estarrecedora realidade política. Os desconhecidos exércitos saqueadores; coisa que atribuem a hordas de mongóis, de filisteus, Vikings e partidarizados, que atuam sem cerimônias à luz do dia, sob as vistas míopes dos nossos lídimos representantes institucionais, quase cegos. Eles só enxergaram o estrago depois dos assaltos ocorridos; quando o Brasil já está pelado, largado à beira da estrada Belém-Brasília! Drenaram o coitado! Levaram todo o seu dinheirinho e o deixaram literalmente nuzinho, sem celular, sem o óculo, sem a carteira e sem um vale transporte pra pegar a condução de volta a Brasília! Mamado à exaustão, ficou perdido no meio do nada, tadinho!

E nós ainda agora “reeducandos” da caverna que a política alugou do Platão, continuamos com a mesma cara de Mané, vendo tudo passar como se fosse uma novela da “grobo” cheia de sexo entre gente fina, de muito dinheiro, na maior! Outro ouvi certo político nordestino gritar para um guardador de carros, para não ceder à cobrança da gorjeta. “Povo é o prepúcio nos homens públicos que constroem desenvolvimento com democracia!”. Assustadíssimo, corri pra casa, esbaforido. Acho que eles estão pretendendo uma circuncisão! Aí lascou de vez o nosso lado! Eu já sou circuncidado! E aí?

Eucidônio, meu mordomo e motorista da minha Kombi, que já estudou em Harvard; educado, pediu vênia para acrescentar um oportuno conselho. E disse, cheio de acadêmica fleuma inglesa: _ “O povo brasileiro precisa mudar de endereço na psicologia das massas: sair da caverna alegórica de Platão, atualmente alugada a políticos para confinamento de eleitores insurgentes e, mudar-se de mala e cuia para a Alegoria do Porco Espinho, de Schopenhauer!”. Será mesmo?… E fui refletir em solilóquio “ingrês” sobre a alegoria do suíno-espinhosa na complexa Parerga e Paralipomena: Fala-se que num dia gelado de inverno, os membros de uma sociedade de porcos-espinhos se aglomeraram bem juntinhos para, por meio do calor mútuo, se proteger do congelamento. Porém, logo sentiram os espinhos uns nos outros, e trataram de se distanciar. Quando a necessidade de aquecimento os aproximou outra vez, repetiu-se o segundo mal, de modo que foram jogados entre uma e outra miséria até encontrarem uma distância média que pudessem suportar a situa situação da melhor maneira possível, tal como agora quando iniciamos a nossa débil permuta por um “calorzinho“ para nossa cidadania e orçamento familiar!

Aconchego. É assim que à necessidade de companhia, nascida da privação, do vazio e da monotonia do próprio íntimo, impele os seres humanos a se procurar aconchego, mas suas muitas qualidades desagradáveis e defeitos intoleráveis os afastam novamente. A distância média que por fim encontram, e que é capaz de possibilitar a convivência, consiste na cortesia e nas boas maneiras, ainda que dissimuladamente hipócritas.  É verdade, que devido a ela, a necessidade de “aquecimento” mútuo é satisfeita apenas de maneira incompleta, mas, em compensação, não se sente a picada dos espinhos. – Quem, no entanto, tiver muito “calor” interno próprio, faz melhor ficar longe da sociedade para não causar males nem sofrê-los.

É verdade!… Eucidônio, esse danado mordomo-motorista que estudou em Harvard, deu uma dentro! Acho melhor agente se mudar de mala e cuia pra essa alegoria espeleológico cavernosa do porco espinho. Pelo menos essa ainda não foi alugada aos políticos/empresários, ou quase todos. Será que tem Covid lá?

Mohammad Jamal é escritor. 

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