Entrevista exclusiva: Jabes diz que Marão cede a pressões e prejudica combate à pandemia
Palavras-chaves: Entrevista, Jabes Ribeiro
Realizamos entrevista exclusiva com o secretário geral do Partido Progressista (PP) na Bahia, Jabes Ribeiro. Conversamos ontem, 26 de maio, por telefone. Atendeu-nos de sua casa, em Salvador, onde cumpre a quarentena com a companheira de longa data, a esposa Adryana Ribeiro. Na capital, o ex-prefeito de Ilhéus também está mais perto dos tratamentos importantes para a sua saúde, que sofreu abalo significativo nos últimos tempos.
Se você está lendo esta matéria em Ilhéus, é muito provável que conheça a trajetória de Jabes. Quatro governos municipais. Mandato de deputado federal. Difícil encontrar presença tão duradoura e influente nos últimos 40 anos da história local, para alegria de muitos e críticas de outros tantos também.
Essa história começou a ser contada nos primeiros apontamentos do livro de memórias que ele prepara. “Não tem data prevista para lançar. Eu não estou preocupado com isso. É um projeto antigo, mas, agora, com a pandemia, você não tem desculpa, né? Basicamente, dedico duas horas por dia para escrever”.
Jabes demonstra habilidade ao apresentar trechos do livro. Faz isso sem entregar os desfechos. Brinca com sinopses para despertar a curiosidade “sobretudo de quem gosta de política”. É assim que ele levanta ganchos sobre momentos históricos, dos quais participou, como as conversas que resultaram na aproximação entre o PSDB e o PFL, em apoio a Fernando Henrique Cardoso. “Muitas coisas importantes aconteceram nos bastidores”.
Também rememora “coisas lá de trás. Por exemplo: a campanha de 82 para prefeito de Ilhéus. Como um jovem surgido de uma hora para outra consegue caminhar naquela eleição, que tinha um grande candidato do sistema, Sá Barreto? O que aconteceu? Quais fatos fizeram com que meu nome, a grande zebra, acabasse prefeito de Ilhéus. Veja bem: eu tinha 29 para trinta anos”.
Feita a introdução com breves menções ao livro, vamos à entrevista. Nela, Jabes Ribeiro sobe o tom ao analisar como o prefeito de Ilhéus e o presidente do Brasil responderam ao desafio histórico da pandemia de Covid-19.
Há críticas contundentes sobre a postura do prefeito Mário Alexandre e a sua dificuldade para lidar com as pressões do momento.
Jabes também fala das conversas que tem tido sobre as possíveis alianças do PP com aliados da base do Governo Rui Costa. Leia!
Houve algum momento tão difícil como o atual para ser prefeito de Ilhéus? Pergunto por causa da pandemia.
A pandemia é um fato completamente anormal, é uma doença terrível. Algo semelhante só se viu lá atrás, no início do século XX, 1918 e 1919, com a gripe espanhola. Você não tinha saída, não existia vacina, como agora para a Covid-19. Portanto, essa é uma questão que a ciência vai resolver. Até lá, outros argumentos podem ser ditos, mas o que funciona mesmo é o distanciamento social.
O caráter excepcional do momento implica em reconhecer que é o mais difícil?
Os governos municipais – de um modo geral, não só o de Ilhéus – devem ser avaliados por tudo o que já aconteceu nesses três anos e pouco. Nenhum prefeito ou o presidente da República pode ser culpado pela pandemia. Agora, há diferença entre as lideranças: a capacidade de mitigar os efeitos da doença. Em Ilhéus, nós perdemos tempo. Feira de Santana, que tem uma população quase três vezes maior, tem menos do que a metade dos casos de Ilhéus. Isso precisa ser analisado de forma responsável. Ilhéus está passando dos quinhentos casos. O governo municipal falhou. Quando saiu a notícia daquele casamento no Txai, em Itacaré, não houve rapidez e a decisão para se tomar algumas medidas. O que se fez? Praticamente nada. Quais os ilheenses que tiveram contato com aquelas pessoas? Qual investigação foi feita? Faltou essa busca ativa. Faltaram outras medidas, como as barreiras sanitárias. Itacaré fez, nós não fizemos. Ações foram atrasadas e outras nem adotadas. Quando você erra, fica mais difícil para todo mundo, o comércio fica mais tempo fechado e a necessidade de distanciamento se prolonga, com prejuízo maior. Mário tem essa dificuldade. Para ele, ganhar a eleição foi um susto. Não estava preparado para administrar uma cidade. Os primeiros dois anos de governo foram completamente perdidos, só havia um foco: a eleição da mãe.
Falta consenso entre as esferas de governo sobre as atividades que devem ser consideradas essenciais. Num exercício de imaginação, quais serviços você classificaria como essenciais nesse momento?
Não é possível adotar medidas iguais para situações diferentes. Se uma cidade tem índice de pandemia muito pequeno, com dois, três, cinco casos, é preciso ponderar isso. Não dá para dizer: “Fecha tudo na Bahia!”. Não é essa a questão. A situação se agravou em Ilhéus, Itabuna e Uruçuca porque os resultados das medidas ficaram alarmantes. Isso vai ter que ser cobrado. Tem que correr atrás do tempo perdido. Mortes já ocorreram. Pessoas foram contaminadas. Quero me solidarizar com as famílias que perderam seus entes e com quem paga o preço pelo fato de as medidas não terem sido tomadas adequadamente, como os comerciantes. Mas tem que tomar providência. Não tem mais jeito. A coisa chegou num ponto que não tem saída. Onde o dever de casa foi feito corretamente desde o início o resultado foi bem melhor. Menos vidas foram ceifadas e não houve prejuízo tão intenso para setores da economia.
O prefeito Mário Alexandre hesita em fiscalizar o cumprimento das regras impopulares contra a pandemia devido à provável tentativa de reeleição?
Quando você trata de uma pandemia como essa, não pode politizar decisões. O governo, nesse ponto, é fraco. Quem pressiona mais leva vantagem. Isso é péssimo. Agora não dá para você agir de forma boazinha nem politizar as questões. Esse foi o grande problema. Isso gerou insegurança. Aquele vídeo com a conversa sobre a Central de Abastecimento foi um absurdo. O prefeito fala com o secretário do Estado. O secretário fala que tem que fazer isso e aquilo. O prefeito então: “Você bota a polícia para garantir, e eu faço”. Sinceramente, isso demonstra que a liderança não tem a firmeza, a tranquilidade e o bom senso para tomar as decisões. Leva na base da pressão de A ou de B. A prefeitura passa a ideia de que quem pressiona mais leva vantagem, porque tem uma eleição aí na frente.
O prefeito autorizou a volta do funcionamento de templos religiosos. O bispo diocesano de Ilhéus disse que as igrejas e paróquias católicas vão permanecer fechadas. O senhor autorizaria a volta dos cultos presenciais?
Eu não quero fazer uma análise específica. Se é certo abrir igreja, eu não sei, não conheço essa realidade interna. O prefeito autorizou, o bispo disse que vai manter as igrejas fechadas. Veja: há insegurança. O bispo manteria assim se ele tivesse certeza de que pode abrir? A liderança é insegura: não passa segurança, não passa credibilidade. Isso é muito ruim para o combate à doença. Para você ver que não é uma avaliação partidária, eu quero parabenizar o governador Rui Costa e o prefeito ACM Neto. Os dois têm a visão clara de que o mais importante é combater o vírus.
Rui e Neto não têm uma eleição à frente. Isso não facilita de alguma forma?
Neto tem um candidato a prefeito de Salvador. O governador tem uma candidata. Portanto, eles têm a eleição da capital agora. É uma questão de liderança, sabe? Porque o mais importante agora é que a Bahia e, no caso, Salvador tenham o melhor resultado no combate ao vírus. Agora é hora de trabalhar juntos. A eleição é lá na frente. Não tenho nada de pessoal contra Mário. Me dou bem com ele. Às vezes as pessoas confundem isso. Da mesma forma, quando era prefeito fui criticado positiva e negativamente. Essa é a tarefa de todos na democracia.
O governador Rui Costa demonstra preocupação em ver a base do governo estadual alinhada em Ilhéus? Existe a possibilidade de uma composição do PP com o PT no município?
Sou secretário estadual do partido. Represento o PP no conselho político do governo. O governador nunca me chamou para dizer: “Eu quero unidade em Ilhéus”. Nunca disse isso sobre nenhum local administrado pelo partido. O que ele disse é que, no momento adequado, nas cidades onde tiver a percepção de que se pode perder para a oposição, ele vai conversar com a base aliada. A meu ver, essa questão está distante. Pelo que temos visto, Cacá está muito bem. Nós não temos nenhuma dificuldade em discutir, tendo a percepção de que Cacá reúne as melhores condições. Eu sempre digo: ele é o mais preparado para governar. Tem experiência. Veja o que deu colocar Mário na prefeitura sem experiência. Perdeu dois anos. Nós não teríamos o desligamento dos servidores que entraram no município entre 1983 e 1988, se Mário tivesse chamado desde o início as pessoas aprovadas no concurso que fiz em 2016. Ao invés disso, ele preferiu encher a prefeitura de cabo eleitoral para beneficiar a eleição da mãe. Isso gerou uma atitude dura por parte da Justiça. Sobrou para os funcionários, gente que saiu sem direito algum. Eu creio que o governador tem essa noção. Nós temos conversado com o PT. É um partido parceiro. O que vai acontecer eu não sei. A gente tem conversado com todos.
Com o PSD também?
Com o PSD as dificuldades são mais claras, eles têm o prefeito candidato à reeleição. As minhas relações com o PSD estadual são boas. Eu sou amigo do senador Otto Alencar. Não existe dificuldade em conversar, mas não se trata de fazer uma conversa aberta no momento em que você tem a candidatura do prefeito à reeleição.
O PP entrou no Governo Bolsonaro e é aliado importante do governo Rui Costa. Ocupar cargos em governos de campos opostos não é oportunismo?
Eu posso falar da parte estadual. Não vou falar do que acontece nacionalmente, até porque há muita divergência nesse sentido. Acho que você pode até apoiar ações do governo sem preencher cargos. Você preenche cargos quando ajuda a eleger, contribui desde o início. A posição da Executiva Estadual é muito tranquila: manter a aliança com o Governo da Bahia. Essa é a nossa posição. Se um deputado ou outro resolve indicar uma pessoa, é uma atitude individual. Sob o ponto de vista da nossa lógica política, nós temos uma aliança e vamos permanecer nela, para que ela – a aliança – possa continuar no Governo do Estado. Não há nenhum elemento, não há nenhum fato que nos tire desse caminho. A ponte e o hospital resultaram da articulação necessária que fizemos, inicialmente com o governador Wagner e depois com o governador Rui. A história está aí para mostrar. Essa aliança beneficiou a cidade.
Só mais uma pergunta: o presidente Bolsonaro atrapalha o combate à pandemia?
Atrapalha. É hora de união. É hora de esquecer sigla partidária e disputa eleitoral. Bolsonaro está pensando em 22, nós ainda estamos em 20. Ele faria um bom trabalho se agisse como vários presidentes, se unisse governadores, prefeitos e o Congresso Nacional. Com todos juntos para combater esse negócio, o resultado chegaria mais rápido. O governador fala em distanciamento social, até porque não tem remédio ainda, e o presidente não defende o distanciamento. Ainda vai para reunião, passeio, é um negócio complicado. Por isso hoje o Brasil tem sido motivo de brincadeira no mundo inteiro. O Financial Times, New York Times, até jornais conservadores criticam terrivelmente Bolsonaro, o líder negacionista. Quando sair uma vacina, o Brasil vai ficar em um dos últimos lugares da fila para receber. Sabe por quê? O Brasil não assinou o documento da Organização Mundial de Saúde. Que loucura ideológica! Os Estados Unidos, idolatrado pelo governo atual, proibiu a entrada no país de viajantes que estiveram há menos de quatorze dias no Brasil.
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