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Mulher negra e militante, Bernadete quer defender o povo de Ilhéus

Bernadete Souza, pré-candidata a prefeita de Ilhéus pelo PSOL.

Por Suzana Batista.

Bernadete Souza Ferreira, filha de Maria Adail de Souza e Cândido Ferreira, teve seus caminhos traçados pelos ancestrais e dirigido por Odé dono do orí de Bernadete (cabeça- destino) foi se forjando na sua militância socialista. E no acúmulo de uma consciência política, em 1986 engajou-se na construção do PT, partido pelo qual foi candidata a vereadora em 2004 em Ilhéus de onde desligou-se em 2015 indo participar do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade.

Em 1999 assumiu outro desafio, a luta pela reforma agrária um projeto de democratização fundiária. No Brasil apenas 10% de empresas e famílias poderosas detém mais de 70% das terras agricultáveis e das águas, o povo vai sendo expulso do campo. Bernadete e seu grupo ocupou a fazenda Fortaleza, hoje Projeto de Assentamento Dom Helder Câmara, uma comunidade camponesa e agroecológica em 2001 foi iniciada sacerdotisa de Odé – Oxóssi pelas mãos da Ialorixá Elza Bahia de Araújo sua amada mãe Senhora de Ewá, Ialorixá do Ilê Axé Omi Ewa filha do Gantois.

Graduou-se em letras pela UNEB e especializou-se em educação do campo e agroecologia na USP – ambas graduações e pós-graduação proporcionada pelo programa de educação da reforma agraria PRONERA, destruídos de forma vil pelos governos Temer/Bolsonaro. Esta secretaria nacional de povos e classes do campo da intersindical Central da classe trabalhadora; ativista do movimento negro unificado MNU; e ativista feminista; compondo a direção estadual da Central das Associações Camponesa Quilombola dos povos Tradicionais e Agricultara Familiar – CECAF, membro da direção estadual PSOL BA e vice-presidente do PSOL em Ilhéus.

Em 2018 foi candidata a co-senadora junto com Fábio Nogueira presidente estadual do PSOL e yawo do nosso Ilê (Ilê Axé Odé Omí Ewa). Nesse momento de grande instabilidade política e crise econômica onde costumeiramente o peso sempre cai nas costas do povo, dos trabalhadores, um grupo de militantes e ativistas dos movimentos sociais do campo e da cidade estão apresentando Bernadete Ferreira, como pré-candidata a prefeita de Ilhéus pelo PSOL.

A sacerdotisa de Odé – Oxóssi destaca com emoção sua situação de mulher negra “me situo como mulher negra, carrego muitas cicatrizes, as marcas do racismo que como verme nocivo tenta aniquilar as mulheres e homens negros pela violência da discriminação, cicatrizes do machismo”. Ela continua a desabafar “as mulheres e as mulheres negras, de forma ainda mais cruel fundamentado nas estruturas do patriarcado dando suporte ideológico ao estupro e feminicídio, mais de 7,3% mulheres morrem vítimas da violência sexista no Brasil, daí seu compromisso de mulher negra feminista e socialista.

Sobre suas perspectivas como pré-candidata a prefeita de Ilhéus, a filha de Oxóssi salienta “é hora de avançar observando minha cidade as mulheres, os homens e crianças que aqui residem e que labutam dia a dia”. Não é fácil para essa mulher concorrer numa cidade onde o brasil foi ‘descoberto’ ela busca o básico para os habitantes que estão cada vez mais vulneráveis ao descaso governamental, impedidos de crescer e desenvolver-se de um lado por uma estrutura econômica que tem colocado historicamente como exportadores de comodites da cana de açúcar ao cacau e do outro o estigma coronelista machista e racista dos que usurpam até hoje os recursos naturais e a força de trabalho do povo ilheense.

Ilhéus é uma cidade com enormes recursos naturais e culturais. Pode sim mudar sua história a história do seu povo com o implemento de uma gestão pública, do interesse de todos e não para privilegiados esse é o seu grande desafio, ganhar a eleição e construir um novo marco para uma Ilhéus de todas e todos. Sobre sua campanha, Bernadete já participou de algumas eleições como militante e como candidata, mas esta é especial. Primeiro, como pré-candidata está dialogando no interior do PSOL com seus filiados e dirigentes para que se efetive a indicação do seu nome apesar do momento delicado da política, o PSOL ser protagonista de uma nova narrativa na história das eleições municipais, que possibilitem o debate de desenvolvimento sustentável e cooperativo, de implementação de políticas públicas para o combate ao machismo as homofobias ao racismo.

Um repensar sobre o prisma da qualidade de vida e do desenvolvimento sociocultural para todos da cidade preservar e desenvolver seus recursos naturais e culturais. Uma cultura que nasce do povo como reprodução da vida e retorna a sociedade pela genialidade dos artistas e artesões, em Ilhéus só o PSOL pode fazer isso, se confirmando sua candidata de mulher negra, esse projeto passa hoje pelo aval dos dirigentes e filiados do seu partido.

Neste momento Bernadete se ver como pré-candidata, mas procura da melhor forma ser digna desse desafio. Em sua cidade invariavelmente o povo não tem sido interlocutor em momento algum dos planejamentos do governo municipal e consequentemente não são sujeitos da ação pública. Esse é o objetivo de mudar e fazer de sua campanha um mutirão com muitas cabeças, pés, mãos e corações que buscará chegar a cada recanto desse município para construir um governo popular e participativo.

Ainda destaca que em sua gestão a definição de prioridades é que vai determinar a utilização dos recursos públicos, municipais. Na cidade alguns eixos são estruturantes no programa – a busca de desenvolvimento sustentável com incentivos significativos a cooperação, a economia solidária, otimização das redes de saúde voltadas para o fortalecimento do SUS, educação pública de qualidade e respeito as diversidades urbanas e rural (implementar a educação do campo).

Em diálogo com a sociedade civil e organizada e poder judiciário a pré-candidata tenta viabilizar estruturas de acolhimento as mulheres vítimas da violência doméstica, proporcionando espaços de geração de renda assistência jurídica e desenvolveremos de políticas públicas com apoio necessários para a reeducação antirracista, antifascista e antihomofóbica, enfim uma inversão de prioridades onde se valorize o ser humano integrado ao desenvolvimento socioambiental.

Sobre o atual momento de pandemia, Bernadete é enfática “a crise do Covid-19 coloca para todos os militantes das causas sociais o estímulo para pensar novos modos de sociabilidade e de relacionamentos comunitários, como é sabido a condição de deter a pandemia passa pelo isolamento social seguindo as regras da Organização Mundial de Saúde – OMS”.

A pré-candidata ressalta que “para as instituições sanitárias, no Brasil isso está sendo difícil pois estamos sob o domínio de um governo irresponsável que vai na contramão das orientações da OMS e demonstrando desprezo pela vida”. Em Ilhéus onde a pandemia alcança índices assustadores o prefeito à serviço de empresários usurários baixa decreto quebrando o isolamento social. E afirma que tem feito denúncias, orientado a comunidade a ficar em casa, desenvolvendo bons hábitos e produzindo alimentos saudáveis é uma grande lição que ela está aprendendo com os tempos de pandemia.

Suzana Batista é jornalista e assessora do PSOL.

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